Morre um personagem anônimo da história de Cordeiro e da região

Foto José Ricardo Pinto # 2004


                                                                                                


Carlos Alberto Moura Pereira da Silva, filho do fundador da fábrica de cimento Alvorada. Aos 83 anos de idade Carlos Alberto faleceu em Sorocaba no dia 15 de abril. Filho de Severino Pereira da Silva, falecido em 1986, que em 1968 iniciou a construção da fábrica Alvorada.

Severino e Carlos Alberto fazem parte da história sem serem reconhecidos como tal. Eles deram vida econômica em um momento de crise que vivia à região nesta época.

Cordeiro, que dependia do comércio local, principalmente depois da queda do café no mercado mundial, estava com falta de trabalho para a mão de obra da cidade.

A fábrica de tecido vivia o período de decadência, originando sua falência em 1978. A cooperativa de Cordeiro também fechando. A estrada de ferro desde 1964 estava desativada. A economia da cidade estava comprometida por falta de empregos, que é o que faz girar a economia de uma cidade.

No final de 1968 inicia a construção da fábrica de cimento Alvorada em Cantagalo. A primeira das três fábricas que atuam na região. Isto significou um novo marco na história da região que começou com o ouro, no início da colonização da região, depois a do café, que deu riquezas (veja a matéria da edição anterior do jornal Ponto de Vista, “Cordeiro nasceu do café, do trem e do trabalho”). Com a construção da Alvorada iniciou a era do calcário que trouxe trabalho para a região.

Cantagalo como sede das fábricas de cimento, acabou ficando com o recolhimento de impostos destas, mas Cordeiro e seu distrito na época Macuco receberam a maior parte das famílias que vieram em função do pólo cimenteiro que estava surgindo.

O pioneirismo da Alvorada de Severino é que fez com que os outros grupos cimenteiros também construíssem na região por questão de mercado.

O que seria da região, e de Cordeiro, caso não houvesse este pólo gerador de empregos. A construção da Alvorada gerou mais de duas mil vagas de trabalho durante o período de obras. O mesmo acontecendo com a construção das outras fábricas. Com a inauguração a fábrica chegou a trabalhar com mais de 450 funcionários diretos. Hoje o número de funcionários fixos em cada unidade destas é inferior a 100, mas absorve um grande número de funcionários de firmas terceirizadas prestadoras de serviços às fábricas de cimento. Fazendo surgir um novo mercado de trabalho em função desta terceirização, a indústria metal mecânica que se expande fazendo com que muitas destas novas empresas passem a atuar no mercado nacional como prestadoras de serviços especializados. E estas empresas foram fundadas, na sua maioria, por ex-funcionários destas fábricas (Alvorada, Votoran e Mauá), que passaram a usar a experiência adquirida no período em que trabalharam nas cimenteiras.

São pessoas como os Pereira da Silva, os Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, e esta nova geração de empreendedores da cidade que deveriam ser sempre lembrados quando se fala na evolução da região.

Mas novas eras serão precisas para absorver as mãos-de-obra que surgem para o mercado de trabalho anualmente. E quais as ações que estão sendo feitas para que novas frentes de trabalhos surjam na cidade?






Quem foi Severino Pereira da Silva?



Preferia estar falando de Severino e Carlos Alberto Pereira da Silva, por homenagem aos 115 anos de aniversário de nascimento do patriarca e não em homenagem pela morte do filho que teve a mesma visão do pai. Carlos Alberto teve a mesma visão empreendedora e social do pai. Uma pessoa humilde, diferente dos magnatas das indústrias, que se coloca em uma redoma intransponível.

Em 2004 trabalhei na estamparia e nesta época tive a oportunidade de entrevistar Seu Carlos, para um jornal interno da fábrica. E pude comprovar o que meu pai, José Geraldo Pinto, falecido há quatro anos, que trabalhou, quase, a vida toda para o grupo de Severino, aposentando na fábrica Alvorada, sempre me falou daquele que foi antes de ser patrão um amigo. E funcionários foram quase todas as pessoas da minha família, tanto por parte de pai quanto de mãe.

Severino nasceu em Taquaritinga do Norte-PE, em 1895. Caçula de uma família numerosa partiu cedo para Recife, estudando comércio e trabalhando em uma loja de tecido onde aprende de tudo, desde venda até a parte administrativa. Neste período tem como companheiro de quarto e de loja, Assis Chateaubriand, que na época disse a Severino que sairia para trabalhar em um jornal próximo a loja ou venderia tecido o resto de sua vida.

Depois Severino passa a trabalhar em uma distribuidora de tecido, a maior do nordeste, Alves de Brito & Cia. Começa a trabalhar como caixeiro viajante percorrendo vários estados nordestinos, com uma tropa de mais de 30 animais, o chamado trem de mulas. Vendia tecido, recebia notas promissórias de comerciantes da capital.

Muito inteligente e obstinado, volta ao Recife e passa a gerenciar a loja. Logo depois recebe um convite para se tornar sócio da empresa em uma filial na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1931, com a queda da economia mundial, o governo de Getulio Vargas proíbe a importação de máquinas e peças de grande porte. Com este decreto passa a comprar fábricas de tecidos que estavam em falência, e as recupera revendendo-as depois. Em 1937 compra a Cia Aliança e vê a possibilidade de fazer outro tipo de negócio: recupera os equipamentos revendendo-os depois, e se associa a uma família mineira, compradora de parte das máquinas, fazendo no terreno um empreendimento imobiliário com prédios comerciais e um conjunto habitacional no jardim Laranjeiras, que existe até hoje.

O grande negócio de Pereira da Silva acontece em 1939, quando são oferecidas a ele duas fábricas de tecido em Sorocaba-SP. A sorte estava ao seu lado. Com a visão empreendedora que tinha, percebe que pagaria as fábricas com o estoque existente em seus depósitos. Em 1941 quando assume as fábricas, a Europa já vivia em guerra, o que fez cair à produção e exportação das fábricas do continente. Este fato fez com que as fábricas de Severino ganhasse o mercado de exportação a países da América do Sul, África e Ásia.

Em 1945 constrói a fábrica de cimento Paraíso, em Italva-Rj, a primeira do que viria a ser a Companhia de Cimento Portland Paraíso. Depois vieram as fábricas Barroso, em Minas Gerais, a Alvorada, a Goiás, e a Tubazém, no Espírito Santo.

O aglomerado industrial de Severino Pereira da Silva chegou a ter mais de 11 mil funcionários nos anos 1980. O que foi um império industrial começou a ruir com a morte do patriarca em 1986, se agravando com a partilha da herança entre os filhos. O grupo cimenteiro foi vendido pelas filhas e genros ao maior grupo cimenteiro do mundo, a Holcim. Já a parte de tecido que ficou com Carlos Alberto, começou a cair com a entrada de tecidos asiáticos com o preço muito mais baixo do que o preço de produção no Brasil. Não só a Companhia Nacional de Estamparia, mas muitas outras fábricas do ramo caíram com a produção. E atualmente existe apenas uma das fábricas de tecido, que por ironia do destino, foi uma das duas primeiras fábricas compradas em Sorocaba: a estamparia.

Voltando a Recife, no início do nosso relato, Assis Chateaubriand saiu da loja em que trabalhava com Severino e se tornou o maior magnata da imprensa brasileira e Severino vendeu tecido e cimento até o resto da sua vida.

Comentários

Danny disse…
Olá Adorei o blog!!
Estarei a seguir e acompanhar suas postagens!
Espero que acompanhe minhas postagens também!

Beijos.
Danny disse…
Olá Adorei o blog!!
Estarei a seguir e acompanhar suas postagens!
Espero que acompanhe minhas postagens também!

Beijos.
Unknown disse…
Olá. Como entro em contato com vocÊ?
Tenho algo que pode ser acrescentado a essa historia(secreto)
Daria uma boa materia. =)
José Ricardo disse…
Lis Alves, foi um prazer ter recebido o seu comentário. Para entrar em contato comigo pode ser pelo e-mail jotaricardo13@gmail.com, ou jornalpontodevista@hotmail.com, ou ainda pelo celular 22-8131-7656.

Um abraço e espero o seu contato

José Ricardo Pinto
Feitosa disse…
E sobre as fábricas de algodão ninguém fala nada
ele posuia fábricas de beneficiamento de algodão no interior do Rio Grande do Norte na cidade de Angicos
José Ricardo disse…
Alex, agradeço o seu comentário, mas estes dados consegui em uma entrevista com o senhor Carlos Alberto, alguns anos antes de seu falecimento. Se não comentamos a respeito, foi por ele não ter mencionado a mim. Existem tantas outras informações sobre ele, e seu pai, Severino Pereira da Silva, que não conseguiríamos falar apenas em um post de blog. Não sei se você conhece, mas tem um livro, "A Passagem do Cometa", de Luiz Olavo Pontes, contando a história do senhor Severino. Vale a pena ler, são 872 páginas contando a história deste empresário que nos faz ter orgulho de termos conhecido.
Um abraço,
José Ricardo Pinto
Antonio Fabiano de Aguiar Silvares disse…
Matéria muito boa, e que serve como motivação para novos empreendimentos por parte de muitos que a lerem. Destaque também para o formato da exposição ( Clara, sucinta e muito objetiva).
Parabéns José Ricardo.
José Ricardo disse…
Obrigado, Dr. Fabiano! Abraço.
Unknown disse…
Muito bom parabéns pela matéria bem completa esplicada e ampla de informacoes fico feliz de ver toda a historia infelizmente não conheci o senhor severino pereira da silva mas aqui na pacata cidade em que moro Taquaritinga do norte ele é lembrado com carinho por todos que tiveram o privilégio de o conhecer ele deixou escolas,hospital,hotel,sala de cinema ele praticamente fez uma cidade pois aqui so conhecemos Taquaritinga antes e depois de severino pereira tenho orgulho desse nobre cidadão que ajudou tanto essa terra e o povo que aqui vive
José Ricardo disse…
Agradeço o seu comentário e contentamento com a matéria. É um prazer saber que você é de Taquaritinga do Norte, PE. Tenho um tio que foi prefeito na cidade e foi praí por causa do senhor Pereira, você deve conhecê-lo, Jarbas da Silva Pinto.
Tenho muita vontade de conhecer Taquaritinga e as histórias do senhor Pereira contada pelo seu povo.
Um grande abraço e, mais uma vez, obrigado pelo seu comentário.
José Ricardo Pinto
Unknown disse…
Muito bacana ler toda essa trajetória. Li em voz alta para meu pai que só foi completando e confirmando. Minha mãe é sobrinha viva,filha de Manuel Pereira da Silva, está com 81 anos. Relembra com lucidez do tio que foi um anjo em sua vida, como ele foi de todas as pessoas que o conheciam. Parabéns pela matéria.

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