"Narciso acha feio o que não é espelho" O direito de não gostar de alguma coisa!
Todo artista é um pouco narcisista. E o descontrole deste estado pode levar a algo patológico. O artista narcisista depende do aplauso. E quando encontra pessoas que não o aplaudem, estes são vistos como inimigos.
Narcisismo descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo.
A palavra é derivada da Mitologia Grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o desejava. Como punição, foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de levar a termos sua paixão, Narciso suicidou-se por afogamento.
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Para a psicologia e a psiquiatria, o narcisismo em excesso dificulta a pessoa para uma vida satisfatória. Quando isto acontece é reconhecido como um estado psicológico e recebe o nome de "Transtorno de Personalidade Narcisista!.
Neste estado o indivíduo julga-se o melhor e possue necessidade de admiração e aprovação de outras pessoas em excesso.
Porquê esta introdução? Ontem (24 de agosto) postei um comentário sobre "mais uma" apresentação do show stand-up, "É Pra Morrer de Rir", no facebook. Fiz apenas valer meu direito de gostar ou não de algo, ter o meu PONTO DE VISTA. Que no caso é de que poderíamos também estar tendo outros tipos de teatro. Seja o tradicional ou outra forma.
Surpresa eu tive quando o comediante e produtor destes shows, veio tomar satisfação sobre a minha opinião. Tudo bem... tem o seu direito também. Só que hoje fiquei sabendo que ele tirou satisfação com duas outras pessoas que comentaram a minha postagem.
Levar opiniões para o lado pessoal é não saber lidar com a crítica. Não em relação ao show em si, mas por só haver este show. O show é ótimo. Segundo o organizador, atrai mais de 700 pessoas em cada apresentação, fazendo de Cordeiro uma referência para este tipo de show.
Parabéns para o show e para Cordeiro! Mas fica a pergunta: o público cordeirense é um bom consumidor desta arte por gostar ou por, também, não ter mais opções? Será que não seria bom oferecer outro tipo de teatro também? Algo que provocasse a reflexão nas pessoas? O humor também tem este poder, desde que usado para este fim. Vejamos Charles Chaplin, com seu humor mudo, falava aos corações das pessoas. O humor, as vezes, leva a pessoa a uma alienação , e sorrir com o humor de duplo sentido, as vezes, faz a pessoa a cultivar justamente isto, o duplo sentido. Renato Aragão tem sofrido críticas sobre o tipo de humor que ele faz.
Quando a pessoa vê críticas a seu trabalho é natural se sentir ofendida. Mas partir para tomar satisfação com os críticos, sem se preocupar com o direito a liberdade de expressão, partindo para algo baixo, é o fim do humor. Sem nenhum trocadilho... Não estou chateado por ter tomado satisfação comigo, mas com àqueles que compartilharam da minha opinião sim.
Será que hoje em Cordeiro é proibido discordar de alguma coisa?
Caetano Veloso, diz: "Narciso acha feio o que não é espelho". Nelson Rodrigues, jornalista, dramaturgo e escritor dizia que: "Toda unanimidade é burra". Se referindo justamente a seus críticos. Ainda bem que não estamos sendo burros, pois não há unanimidade. Não digo nem que é uma questão de gosto, mas de opinião. Pois gostar de humor todo mundo gosta, o mais sério dos humanos gosta de humor.
Pior vai ser se chegarmos a um ponto em que as pessoas vão a estes shows mecanicamente, roboticamente, por falta de opção. O rir é um direito, mas não obrigação. Igual ao show stand-up do "Terça Insana", Irmã Selma. Um ótimo show.
"Mas quando a pessoa estabelece uma relação patológica, ou seja, cria uma dependência de aplausos, há prejuízos. Isto pode gerar depressão, ansiedade e uma tristeza profunda se os elogios não vêm. A aprovação do outro passa a ser um objetivo na vida e não um resultado natural." Esta é a tese da psicoterapeuta Daniela Loureiro.
Quem faz as pessoas sorrir, deveria aprender a rir das pessoas. Não guardar rancor e não achar que aquele que não ri "não gosta de mim".
Espero que haja muitos shows de stand-up em Cordeiro, mas que haja também outros espetáculos, mostrando que Cordeiro tem um público maduro e com potencial para todas as maneiras de fazer arte. Aonde possam se emocionar, sorrindo ou chorando.
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