A medicina cubana
A medicina
cubana
* Matéria do jornal Ponto de Vista
Texto José Ricardo Pinto
No ano de
2013, um dos assuntos mais comentados pela mídia foi o da vinda de médicos
cubanos para trabalhar em áreas remotas que não são atendidas por falta de
médicos. Muitos médicos preferem trabalhar nos grandes centros, onde podem
atender em consultórios particulares, em vez de irem para regiões longínquas
para trabalhar sem estrutura alguma no atendimento a população.
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| "Vale mais a vida de um homem que todo o ouro do homem mais rico" Che |
Os médicos cubanos já são, desde a sua formação, treinados para trabalhar sem muitos recursos, usando de suas experiências no atendimento e controle de vários problemas como os destas regiões.
A medicina cubana sofreu uma verdadeiro avanço após a revolução de 1959, quando a ilha do caribe passou a ser governada pelo grupo de Fidel Castro. À época, mais da metade dos médicos cubanos fugiram para Miami e apenas 14 professores permaneceram na ilha.
Entre os
revolucionários estava Ernesto Guevara de La Serna, o Che, argentino que se
juntou ao grupo de Castro para mudar a realidade cubana, que era governada por
Fulgencio Batista, um aliado dos EUA e do empresariado e mafiosos americanos, que
controlavam o país em todos os aspectos. No cultivo de cana de açúcar, nos
jogos em cassinos, no tráfico de drogas e na prostituição. O país tinha os piores
índices de analfabetismo e no descaso com a saúde da população.
O início da
revolução foi de reestruturação em todas as áreas no país, principalmente na
saúde a na educação. Che Guevara, que era médico, foi incumbido de refazer a medicina
em Cuba e chamou o também médico e argentino, Alberto Granato, companheiro de
Che na viagem pela América Latina, em 1952. O diário que Guevara fez durante a
viagem virou filme, “O Diário de Motocicleta”. Essas ações na saúde foram
idealizadas na viagem dos desta viagem e que fundamentou neles o ideal de ajuda
aos mais carentes. Granato fundou a Escola de Medicina de Santiago de Cuba.
Alguns anos
depois da revolução, em fevereiro de 1962, Cuba passa a sofrer com o embargo
econômico, financeiro e comercial dos Estados Unidos, que proíbe que as filiais estrangeiras de companhias
americanas comercializem com Cuba valores superiores a 700 milhões de dólares
anuais, impedindo de haver investimentos em várias áreas da administração
cubana. O embargo, que dura até hoje, é reprovado pela ONU (Organização das
Nações Unidas) e por vários órgãos internacionais.
Como não
havia estrutura nenhuma para as soluções imediatas, cuba passa a valorizar a medicina
preventiva criando o Médico de Família e a medicina comunitária. Hoje a
medicina cubana é uma das melhores do mundo, superior em alguns casos as médias
americanas e de alguns países europeus.
É no mundo o
país que possui a maior média de médicos per capita, 6,7%, número superior três
vezes a dos EUA. Em função disso Cuba realiza ações humanitárias pelo mundo,
“exportando” esses profissionais. Os médicos, juntamente com os engenheiros e
professores, são as principais fonte de renda do país, superior a exportação de
açúcar e de fumo, suas principais fontes agrícolas, recebendo em torno de 5
bilhões de dólares por ano, 7% do PIB (Produto Interno Bruto) da ilha. Duas
vezes mais do que as outras exportações.
Há décadas que
a exportação de médicos vem sendo praticado e já beneficiou milhões de pessoas
pelo mundo, desde países da África, da América Latina e Ásia, até a países da
Europa, como França, Alemanha, Portugal, Espanha, além do Canadá, na América do
Norte. São mais de 70 países atendidos por esse programa cubano. O programa de
ajuda humanitária realizado por Cuba é considerado como modelo para o mundo,
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O trabalho
de acompanhamento dos médicos de família é para a prevenção das doenças. Além
da saúde da pessoa o médico também observa o estilo de vida e o ambiente
familiar.
As
policlínicas tem grande importância em Cuba, oferecendo serviços com
especialistas em pediatria, ginecologia, dermatologia e psiquiatria, além da execução
de pequenas cirurgias, vasectomias e raios-x. Tudo para diminuir os
atendimentos nos hospitais, que sempre tem vagas disponíveis.
Em Cuba há
um médico para cada 175 pessoas (No Reino Unido existem 1/600 pessoas, no
Brasil 1/622 pessoas, sendo que em algumas regiões do norte e nordeste essa
taxa é de 1/1.500 pessoas).
Antes da
revolução a mortalidade infantil era de
80 crianças para cada mil. Em 2013, a ilha fechou o ano com a média de apenas
4,2 para cada mil, a média americana é de 5,98 para cada mil. No Brasil essa
média é de 14 para cada mil.
Cuba
consegue estas taxas por oferecer atendimento de saúde gratuito para todos os
cidadãos, em particular as mães e seus filhos. Há um programa de vacinação com
uma cobertura de 100% das crianças, além do alto grau de escolaridade das
pessoas.
Em Cuba, a
alfabetização é de 99%. O cubano comum tem direito desde a educação infantil até
a universidade, podendo se formar na área que quiser, de preferência nas áreas
de saúde e social.
Os órfãos
são tidos como os “filhos da pátria”, e com os mesmos direitos que as crianças que
têm pais, com direito a saúde e a educação até a faculdade. Em Cuba não tem
crianças na rua mendigando e perdendo desde cedo a sua dignidade.
Os salários
são baixos, mas o governo subsidia quase tudo as pessoas. Não existe fartura,
mas também não existe miséria. A alimentação é de boa qualidade e barata, sendo
destinado a cada família o necessário para uma vida saudável.
O Instituto
de Medicina Tropical Pedro Kouri tem como meta melhorar a qualidade de vida do
povo cubano e do resto da comunidade internacional, oferecendo cursos de alta
tecnologia especializados no diagnóstico, assistência, ensino e serviços de
desenvolvimento de projeto, pesquisa, visando a prevenção, o controle e a eliminação
de doenças transmissíveis.
O IPK já
formou mais de 45 mil profissionais cubanos, além de mais de 5 mil estrangeiros
de 87 países, com especialização em doenças tropicais, enfermidades infecciosas
e assistência epidemiológica. É reconhecido como centro de referência
internacional de medicina, pela OMC e pela UNESCO (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Os médicos
que estão vindo para o Brasil, também são especializados em doenças que afetam
a população de áreas carentes, como a dengue e enfermidades provocadas pelas
precárias condições de vida e pela falta de ações de prevenção na área de
saúde.
O
profissional cubano que está chegando ao Brasil, recebe baixa remuneração em
comparação aos profissionais brasileiros e a o que o governo brasileiro paga ao
governo cubano por cada um deles. Mas Cuba forma esses profissionais, cubano ou
estrangeiro, gratuitamente, apesar das dificuldades econômicas do país.
Médicos cubanos no Brasil
Em outras
duas ocasiões o Brasil recebeu médicos cubanos. A primeira foi em 1987, quando
11 pessoas morreram e mais de mil foram contaminadas, vítimas do césio 137, em
Goiânia-GO. O Brasil recebeu ajuda dos cubanos e, à época, algumas das vítimas foram
tratados na ilha.
A segunda
vez foi em 1990, durante uma ameaça de epidemia da dengue em Niterói-RJ. À
época, poucos dias depois de pedir ajuda ao governo cubano, vários
profissionais de saúde de Cuba chegaram à cidade para auxiliar no trabalho de
prevenção e diagnóstico do dengue. Com a ajuda cubana a epidemia não se
concretizou e Niterói foi à primeira cidade no Brasil a adotar o Programa
Médico de Família no Brasil, com as experiências passadas pelos profissionais
cubanos.
Esses
profissionais encarnam o ideal socialista, são pessoas dispostas a ajudar o
país e a humanidade num todo. Não se importam em partir para países
desconhecidos, mesmo sendo tratados de forma humilhante, como na chegada do
primeiro grupo ao Brasil. Mas as pessoas que dependem desses profissionais os
valorizam por estarem ali para ajudar em um momento de maior fragilidade de uma
pessoa: a falta de assistência médica.
A filosofia
de alguns médicos brasileiros é pelo status e valorização financeira da
profissão. O retorno financeiro é o principal incentivo para ingressarem na
carreira. O lado humano, para alguns, é o menos importante.
Está havendo
casos de médicos cubanos que estão pedindo exílio no Brasil. Mas esses são uma
minoria e visam a possibilidade do enriquecimento, sem se importar com a causa
socialista, diferente da maioria que está no Brasil com agentes humanitários.
Segundo o Conselho Federal de Medicina do Brasil, em 2012 existiam 388.015 médicos no país. Deste total apenas 8% estavam em municípios com até 50 mil habitantes, sendo que 90% das cidades brasileiras estão neste grupo.
Segundo o Conselho Federal de Medicina do Brasil, em 2012 existiam 388.015 médicos no país. Deste total apenas 8% estavam em municípios com até 50 mil habitantes, sendo que 90% das cidades brasileiras estão neste grupo.
Muitos dos
médicos que se formam em Cuba, acabam trocando as cidades populosas pelos
rincões do Brasil, devido à formação ideológica que adotaram. Médicos cubanos foram
recebidos por pacientes de joelhos somente pelo fato de estarem lhes dando consulta.
Muitas pessoas nunca haviam visto um médico na vida.
Essa
situação poderia ser diferente se as pessoas que adotaram a medicina como
profissão não se importassem em sacrificar suas vidas longe dos centros para
doar seus conhecimentos nas áreas em que são raros e necessários.
"Hoje
milhões de crianças dormirão na rua, nenhuma delas é cubana".
Fidel Castro

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